13.3.09

Ler o mundo - Daniel Sampaio

1. Efeitos da leitura no desenvolvimento das capacidades do cérebro: «A investigação tem demonstrado a possibilidade de a leitura ampliar as capacidades do cérebro, criando diferentes perspectivas de interpretação da realidade e novas competências no manejo das emoções, contribuindo para a melhor compreensão da complexidade do mundo. Especialistas defendem que o que importa é que a criança leia, sobretudo textos que a mobilizem e não se afigurem desconexos em termos de espaço e tempo, o que poderá levar ao abandono do livro. Por isso, o interesse de uma criança ou de um adolescente por qualquer tema deverá ser incentivado, porque estará a contribuir para o ganho de hábitos de leitura, que só se poderão consolidar nas idades jovens.Costuma dizer-se que se pode ler um livro a uma criança desde muito cedo, na prática deve seguir-se o conselho de segurar a criança ao colo e com a mão disponível ler-lhe um episódio qualquer que o faça sonhar: não importa, a princípio, se é ou não um texto de muito valor literário».

2. Que lia Daniel Sampaio na infância e na adolescência: «Houve tempos, no início da adolescência, em que só me interessava por banda desenhada ou imprensa desportiva. Ansiava pela chegada do «Cavaleiro Andante» para me deliciar com as aventuras de Tintin, ou para recriar, com os meus amigos, as investigações do detective Sexton Blake e do seu assistente Tinker, sempre na pista de tenebrosos crimes; ou recortava as crónicas de «A Bola», onde Aurélio Márcio, Carlos Pinhão e Vítor Santos me encantavam com a capacidade de escrever várias colunas sobre um simples penálti. No Verão treinava o meu francês na revista «Miroir Sprint» dedicada à Volta à França em bicicleta, de modo a saber tudo sobre Ferdi Kubler e Hugo Koblet, os meis heróis do ciclismo.A minha mãe, sempre grande leitora, outrora encantada com com a minha leitura compulsiva das histórias tradicionais«contada às crianças» por Leyguarda Ferreira, dos livros dos Cinco ou do devorar das aventuras de Sandokan, o Tigre da Malásia, andava agora inquieta: «O menino não lê nada!» Ao que o meu pai, mais sereno, depressa respondeu:«Vais ver que o miúdo depois muda, é da idade, depois lerá outras coisas...» E os dois ficaram contentes quando passei do Michel Vaillant para os livros policiais: depressa Agatha Christie e Ellery Queen invadiam os meus tempos livres, à média de um por dia... e nunca mais esqueci O assassinato de Roger Ackroid ou Vivenda Calamidade! »


3. Mensagem de Daniel Sampaio sobre o Plano Nacional de Leitura: «O actual Plano Nacional de Leitura tem, entre outros méritos, a vantagem de oferecer uma lista de livros adequada a cada idade, o que constitui um valioso guia para os pais e educadores. Muitos desses textos são estímulo à fantasia da criança e do adolescente: esse deve ser o principal desígnio da literarura infantil porque, como também escreveu João dos Santos, «histórias sem sonho são narrativas sem murmúrios nem vogais, portanto sem os sons da dor e do prazer».


Daniel Sampaio, in Pública-Público
(Imagem daqui.)

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